
“Enquanto houver a incompreensão, homens e mulheres viverão a desigualdade”
Na segunda parte da Trilogia das Cores, vemos a personagem principal (Karol Karol) cheia de dúvidas, sentindo-se deslocada e desajeitada.
Karol Karol é marido de Dominique, uma mulher rancorosa e perigosa que decide se separar após o início da impotência sexual do esposo. Seu “predatismo” é exemplificado nos menores gestos, como a forma dela gesticular o “tchau”. A impotência sexual do homem pode ser entendida como sua impotência em relação ao mundo em que vivia naquele momento.
Karol é polonês e, mesmo morando na França, não sabe falar francês. Por conta disso, na sua auditoria de divórcio, ele é enormemente prejudicado, sendo impedido de falar. Essa auditoria é a mesmo que Julie, no filme “A Liberdade é Azul”, entra por engano. Aqui, Kieslowski nos remete novamente ao acaso.
O Juiz acaba aprovando o divórcio e Karol decide se vingar. Durante todo o filme, a personagem principal é exposta aos mais diversos tipos de humilhação, que evidenciam vários tipos de desigualdades: econômica, étnica, política, social, dentre outras. Por isso essa película é a mais política da trilogia.
“O homens não são, nem querem se iguais”
K. Kieslowski
O diretor brinca todo o tempo com elipses temporais. Como uma cena de Dominique abrindo uma porta, que é mostrada duas vezes, porém em tempos cronológicos diferentes. Nas duas vezes em que a cena descrita acontece, Karol está brincando com uma moeda de dois francos, o que nos faz estabelecer ligações quase inconscientes e refletir sobre a relação cronológica do filme com sua estória.
Parênteses sobre uma coisa que não se encaixou no texto: Karol rouba um busto de uma vitrine que sempre nos remete à Dominique.
No fim do filme, o plano de vingança de Karol funciona: ele transa com Dominique (numa linda cena em que o orgasmo é simbolizado pelo branco, que é a junção de todas as cores. Isso nos faz pensar que esse é um momento em comum, no qual somos todos iguais) e no dia seguinte ela vai para a prisão.
Karol a visita na cadeia numa cena bela e forte em que Dominique diz, por gestos, que ainda o ama. No fim das contas, ambos terminam igualmente: A mulher presa literalmente e seu marido preso no esquecimento da morte.
Um comentário:
Blanc é o meu preferido ;). Parabéns pelo Blog! Muito coerente e sugestivo. Continue postando =D
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