terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Cinema Novo - Parte do projeto da disciplina "iniciação científica" - Escola da Serra

A Segunda Guerra Mundial causou grande rebuliço no cinema, o que fez com que vários movimentos emergentes se estabelecessem. Na década de 50, jovens muito incomodados com o cinema brasileiro, resolvem discutir novas temáticas e bons conteúdos para os filmes, inovações em termos de linguagem e, sem saber, iniciam um movimento totalmente vanguardista que viria a se chamar “Cinema Novo”. Esse movimento teria como características a inovação e ousadia de seus integrantes, a presença de um cunho extremamente artístico nas produções e nem um pouco comercial, as severas críticas sociais, os filmes simples (do ponto de vista da técnica) e de baixo orçamento, mas principalmente a vontade de retratar a essência do Brasil e mostrá-la aos próprios brasileiros.

O primeiro filme que pode ser considerado parte desse movimento é o “Rio, 40 Graus”, de Nelson Pereira dos Santos, que foi censurado sob a alegação de que, no Rio de Janeiro, a temperatura nunca passara de 36,6°. O filme mostrava a história de cinco crianças das favelas que vendiam amendoim em locais da cidade.

Pouco tempo depois, em meio à excitação dos jovens diante do novo estilo de cinema, surge o lema do movimento: “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, que mostra a idéia de que para se fazer um filme, não é necessário muito dinheiro, basta uma câmera e uma boa idéia, pois a criatividade e a imaginação cuidarão do resto.

O Cinema Novo, no seu início, era composto por Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Saraceni, Ruy Guerra, David Neves, Luiz Carlos Barreto e Leon Hirszman. Nessa primeira fase, que vai até 1964, o movimento tratava principalmente dos problemas sociais nordestinos, uma vez que o nordeste seria tido como a “cara” do Brasil. Os temas mais comuns eram a miséria, a mitologia, a fome, os jagunços e o cangaço. Bons exemplos são os filmes “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (Glauber Rocha), “Vida Secas” (Nelson Pereira dos Santos) e “Os Fuzis” (Ruy Guerra).

Com o tempo, o novo cinema brasileiro foi tomando corpo, e passou a concorrer a diversos prêmios no mundo todo, tendo ganhado vários, além de ter conseguido a simpatia do público e da crítica.

A Ditadura Militar

Na madrugada do dia 1º de abril de 1964, as tropas militares invadiram as ruas. Iniciava a Ditadura Militar, que duraria até 1985. A maioria dos jovens integrantes do Cinema Novo lutou radicalmente contra o militarismo, valendo-se de passeatas e, claro, manifestações através de sua arte.

Com a mudança na política, veio uma censura extremamente severa, que vetou quase completamente os filmes lançados no Brasil. Isso fez com que a produção no nosso país ficasse muito aquém do aceitável, gerando a fama falsa de que não há bons filmes brasileiros, que durou até a “retomada” da década de 90, iniciada com o filme “Carlota Joaquina”. Mas infelizmente essa fama permanece na mente de vários até hoje.

Quando um filme era censurado, seu copião era queimado, sendo assim ninguém jamais teria provas de que aquela película fora filmada um dia. Sabendo disso, os diretores precisaram encontrar uma nova forma de mostrar seus filmes, e a solução foi lançá-los no exterior. Agora os filmes continham aguçadas críticas à ditadura, como em “Terra em Transe”, de Glauber Rocha.

Os diretores, que antes eram apenas garotos de vinte anos querendo mostrar seus filmes, se tornavam verdadeiros monstros do cinema.

Em 1968, já em seus anos finais, o Cinema Novo finalmente encontrou a sua identificação com o público. As obras passaram a ser profundamente inspiradas pelo tropicalismo, e os filmes começaram a se valer dos símbolos do exotismo nacional, como palmeiras, bananas, araras, periquitos, índios, entre outros. Mesmo em declínio, o Cinema Novo ganha um dos filmes mais importantes de sua breve história: Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, que pela primeira vez, misturava ao movimento, características da chanchada.

No início dos anos 70, o Cinema Novo estava em crise. Grande parcela da culpa cabe à ditadura, que forçou grande parte dos integrantes do movimento a se exilar. As novas produções se tornavam fracassos e os diretores acabaram se conformando com a situação política do país. Os mais jovens cineastas do Cinema Novo relutaram em ceder. Permaneceram firmes em sua concepção de cinema, até que o movimento finalmente se desfez. As ideologias iniciais mudaram, assim como mudara o contexto político.

Surgia, então, o Cinema Marginal, um quase rival do Cinema Novo, porém com alguns pontos em comum. Enquanto o segundo questionava os processos políticos decorrentes no Brasil, o outro criticava unicamente o padrão da narrativa cinematográfica de uma forma tosca e debochada. Os diretores do Cinema Novo, então, rumaram por outros caminhos. Cada um seguiu o seu, muitas vezes se desvirtuando das idéias e concepções de juventude, mas sem nunca retirar de si a essência que fez desse, um dos maiores movimentos do Cinema Mundial.

O Cinema Novo continua presente...

O movimento de nome Cinema Novo, com todas as suas características, já há muito foi extinto. Mas seus ideais têm uma força muito poderosa, que continua encantando jovens e os influenciando. Com o advento das mídias digitais, se tornou muito fácil ter acesso às produções áudio visuais. Se antes era necessário pagar o equivalente a quatrocentos reais para se filmar onze minutos em película, hoje é possível filmar duas horas por menos de vinte reais (ou até de graça, dependendo da mídia). Isso transforma o modo como a sociedade se comporta diante da arte, pois se antes as pessoas eram receptoras de opiniões pré-formadas, agora elas serão as formadoras das opiniões, irão participar ativamente da produção cultural do país que é próprio delas, e cada uma tentará transmitir o que sabe, de acordo com o que dispõem.

Nisso, vemos as ideologias do Cinema Novo emergirem novamente. As produções de baixo custo se fazem presentes mais do que nunca. A inovação se torna uma procura diária do cinema contemporâneo (e da arte contemporânea de forma geral). A ousadia se mostra na conciliação de vários estilos e narrativas cinematográficas. As perspicazes críticas sociais fervem num caldeirão de possibilidades e agora todos podem dar mais alta voz às suas indignações. A poética está em constante formação, variando de um cineasta para outro, assim como variam as percepções de mundo.

Compreendo que o Cinema Novo teve uma intensa importância política para o Brasil, e ainda a tem, já que seus filmes são eternos e atemporais, e suas críticas se encaixam perfeitamente a situações que eventualmente nos deparemos nos dias de hoje. Sua herança está viva e presa a essa gente que está e sempre estará em constante busca e formação de sua identidade cultural.

É por esses e outros motivos que eu acredito cegamente que a popularidade do cinema sempre vai existir, e este nunca terminará sua história. O cinema é uma forma de adquirir conhecimento, e deve ser entendido como tal. É natural que suas possibilidades aumentem cada vez mais, e com elas, a criticidade do público.

Se esse movimento influenciou a visão de cinema de grande parte dos diretores da contemporaneidade, por outro lado, influenciou também a visão de milhares de pessoas que nunca se ligaram “oficialmente” à produção artística cinematográfica, já que os filmes sempre visaram o alcance ao grande público e a discussão de temas comuns entre os membros da sociedade brasileira. Foram discutidos o cangaço, a fome, a miséria, a pobreza, a cultura, os símbolos nacionais, as tradições, a ditadura, a história e mais uma infinidade de temas.

Vivemos em uma época que já não é mais a que se contextualiza o Cinema Novo. Em nossa época há costumes diferentes, dogmas diferentes, comportamentos sociais diferentes e demandas diferentes. A consciência das pessoas mudou, e isso pesa nos seus interesses. Mas pontos em comum entre diferentes tempos são perfeitamente cabíveis. Naquela época, jovens quiseram fazer cinema e mostrar seu mundo para o Mundo, hoje, jovens querem fazer cinema e mostrar seu mundo para o Mundo. Naquela época, os jovens quiseram mudar o Mundo, hoje, os jovens querem mudar o Mundo.


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