segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cineclube Escola da Serra

Laranja Mecânica

Meus Queridos,

No dia 08/07 (próxima quinta-feira) teremos um pouco de ‘ultraviolência’ no Cineclube Escola da Serra com o filme “Laranja Mecânica”, obra-prima do mestre Stanley Kubrick. Ele conta a história de Alex, um delinqüente juvenil que, após cometer acidentalmente um homicídio, é iniciado num sistema de lavagem cerebral para a reintrodução na sociedade. Após a sessão haverá debate.

Evento: Laranja Mecânica

Direção: Stanley Kubrick

Duração: 136’

Censura: 18 anos

Data: 08/07/2010

Hora: 18h30

Local: Auditório da Escola da Serra (Rua do Ouro, 1900, Serra)

*Quem se encontrar abaixo da censura deverá levar uma autorização assinada por um responsável.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cineclube Escola da Serra

Senhores,
Em junho, mês do cinema brasileiro, realizaremos a 4ª edição do Cineclube Escola da Serra, exibindo o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, considerado por muitos o melhor filme nacional de todos os tempos. Ele conta a história de um nordestino que, após matar seu patrão, se junta a um bando de cangaceiros.

Evento: Deus e o Diabo na Terra do Sol
Direção: Glauber Rocha
Duração: 120’
Censura: 14 anos
Data: 17/06/2010
Hora: 19h
Local: Auditório da Escola da Serra (Rua do Ouro, 1900, Serra)
Informações: 9631-7483

*Quem se encontrar abaixo da censura deverá levar uma autorização assinada por um responsável.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Decálogo I - Amarás a Deus Sobre Todas as Coisas


O primeiro episódio d’O Decálogo é iniciado com a única personagem que aparecerá em todos os capítulos. Tido como anjo, santo ou até mesmo diabo, trata-se de um homem que observa, zela e vigia em seu silêncio.

Existe, claramente, uma dicotomia entre ciência e religião. É o que o diretor nos apresenta nesse início de minissérie. Uma criança se divide entre o pensamento lógico do pai e as crenças da tia. “Atormentado” pelo amor de uma mãe ausente, o menino procura o que nós procuramos nas religiões: abrigo,apoio e conforto. A busca pela fé não deixa de ser o desejo de uma vida mais fácil, com menos sofrimento. Coloca-se a culpa de tudo em Deus, assim como nele é depositada a confiança e a promessa reconfortante de uma nova existência após a morte.

O garoto, completamente espavorido pela idéia racional do nosso fim biológico dita pelo pai (o coração pára de bombear sangue para o cérebro), é abraçado e reconfortado pela possibilidade mística de partir desse mundo e continuar vivendo. As religiões nada mais são do que tentativas de driblar a morte. Temos necessidade de deixar algo para trás: uma boa lembrança ou uma obra a ser memorada. É o que fica da nossa temporada no mundo, o resto passa. A criança, tratada como um adulto com todas as suas responsabilidades e demasiadamente atormentada para a sua idade, representa o dilema de todo ser humano que se preze: a angústia, pois só se é homem quando se angustia e questiona.

Durante o filme, vemos as certezas inabaláveis colocadas à prova. O pai se questiona sobre a possibilidade de explicação para todas as coisas, como na cena em que, como num sinal metafísico, um pote de tinta derrama em uma folha, revelando certa preocupação com o lago congelado. O progenitor é culpado por não impor limites ao filho, o que virá em forma de castigo quando o corpo do menino for retirado inerte do gelo e o “Santo Zelador” já não estiver mais ocupando seu posto.

O computador, na película, representa outra grande polêmica: o advento da tecnologia. Por vezes ele parece ter vontade própria, por outras parece determinar o destino das personagens, já que é por ele que o pai deduz que a camada congelada estava suficientemente grossa para ser patinada. Isso incita, inclusive, a existência de uma alma para o artificial, já que sua inteligência não nos é totalmente explicitada, mas ocupa, sem dúvida, lugar privilegiado nos questionamentos do garoto. Como exemplo, a existência (ou não) do nosso livre arbítrio.

Os valores cristãos ditados pela tia (Deus existe) são confrontados com a quebra da moral defendida pelo pai (Não há alma). Em nenhum momento uma personagem se julga melhor que a outra, pois não há esse parâmetro, já que se tratam apenas de linhas diferentes de pensamento.

Para minha crítica, que sou ateu, ao final percebemos a parcialidade genial do diretor. Há uma pequena vitória, não de Deus ou das crenças, mas da crítica ao pensando lógico (em que tudo pode ser explicado pela ciência). A criança é retirada morta do lago e todos se ajoelham. Só resta seu registro eterno numa reportagem de TV.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Nota: Decálogo - Krzysztof Kieslowski


Em 1988, Kieslowski realizou a obra que o consagrou internacionalmente: O Decálogo.
Uma minissérie para TV dividida em dez episódios que narram estórias passadas num mesmo condomínio residencial de Varsóvia.
Baseando-se nos dez mandamentos, o diretor questiona os nossos valores morais e a nossa conduta, transportando essas regras de comportamento milenares para os dias atuais.
Dois capítulos se transformaram nos filmes "Não Amarás" e "Não Matarás", que concorreram no Festival de Cannes e impulsionaram a carreira de Krzysztof para o mundo, tornado-o um dos grandes e lendários diretores da história do cinema.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cineclube Escola da Serra

Meus queridos,
Na próxima quinta-feira (20/05) o Cineclube Escola da Serra irá exibir o filme “Gritos e Sussurros”, do mestre Ingmar Bergman. Ele conta a estória de quatro mulheres encerradas numa casa de campo para cuidados de uma enferma em estágio terminal. Realidade e fantasia se misturam à medida que acompanhamos as lembranças das personagens e descobrimos as frustrações de cada uma. Uma profunda discussão sobre as angústias humanas. A sessão será comentada e seguida de debate.
“Gritos e Sussurros é daquelas raras experiências que um espectador carrega por toda a sua existência”

Duração do filme: 106’
Censura: 18 anos
Data: 20/05/2010
Hora: 18h30
Local: Auditório da Escola da Serra (Rua do Ouro, 1900, Serra)

*Quem se encontrar abaixo da censura deverá levar uma autorização assinada por um responsável

domingo, 2 de maio de 2010

Jules e Jim - François Truffaut


“Você me disse: ‘Eu te amo’

E eu: ‘Espere’

Eu ia dizer: ‘Possua-me’

Você disse: ‘Vá!’”


Em 1962, François Truffaut realizou uma das maiores obras-primas da sua carreira e o melhor filme de amor de todos os tempos: “Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois”. Conta a estória da amizade entre dois homens de países diferentes, desde seu início até o trágico fim. Jules é um alemão que mora em Paris e não tem muito sucesso entre as mulheres. Jim é um Francês que vive rodeado de namoradas. Um dia eles tomam conhecimento da estátua de um rosto de mulher muito antiga, preservada num museu. A peça os impressiona de tal forma que eles se apaixonam por ela e decidem seguir seu sorriso por onde quer que vá.

É nesse ponto que eles conhecem Catherine, uma mulher que se comporta estranhamente para sua época, mas, por se parecer com a tal estátua, se torna irresistível. O filme ostenta a rebeldia presente na juventude dos anos 60, embora se passe na década de 10. Não é apenas uma rebeldia política, e sim, uma tentativa de cambiar os padrões até então vigentes. São os reflexos de uma ‘juventude transviada’ transportados para a época em que se passa a estória. Truffaut teve uma infância difícil. A ausência de amor e referências parentais fez com que ele se tornasse um ‘incompreendido’. Furtava para pagar seus ingressos no cinema. Daí vem a vontade de transgredir, presente em vários filmes de sua vida. Em “Jules e Jim”, isso se manifesta intensamente e sob vários aspectos. A fotografia, por exemplo, dita o ritmo frenético da película. É ousada e diferenciada, assim como a música (hora forte, hora suave), que acentua a relação de contraste e inconstância entre as personagens. A narração contribui para o clima ligeiro, porém romântico que o filme adquire.

Catherine é uma mulher inconstante e impulsiva. Com ela, o trio começa a se aventurar nas “trapaças” da vida, o que se convencionou a chamar de amor livre. Cinematograficamente, é uma verdadeira e intensa exploração dos sentidos: cheiros, visões, sons, sabores e outros. Trata-se de uma experimentação de tudo: da vida, do sexo e da paixão. Na tela há uma explosão de estímulos. A película representa uma abertura sexual nunca antes vista no cinema. A troca entre os papéis do homem e da mulher. O famoso “Turbilhão da Vida” de Truffaut.

Difícil de ser descrita (até porque se trata de audiovisual), a beleza é construída através dos detalhes. Foi a primeira vez que se falou tão abertamente em ménage e triângulo amoroso. Nesse ponto, o filme nos remete à “Bande à Part”, uma das grandes obras-primas de Godard (ou “o filme de Godard para quem não gosta de Godard”, para os íntimos). Aos poucos, os protagonistas desenvolvem uma forte relação de dependência, própria da paixão, porém com a forma mais profunda de ciúme que ela acompanha. O amor entre os três se torna obsessivo.

Catherine adora ser bajulada, mas nunca dá o braço a torcer. Quando não recebe atenção, muda seu temperamento, demonstrando hostilidade. Os homens, no seu fascínio, não percebem o jogo no qual estão se envolvendo e atendem a todas as vontades da mulher. Todos estão numa constante busca por uma liberdade idealizada, na mudança dos padrões da sociedade e na quebra de regras.

Estoura a Primeira Guerra Mundial e, com ela, é consumada a separação das três personagens principais, que só se verão juntas novamente após o fim das batalhas. Esse longo período é suficiente para esfriar o relacionamento e pôr fim ao “Turbilhão”. Catherine se encontra triste, acorrentada pelo casamento e privada da sua tão sonhada falta de compromisso. Sua inconstância é cada vez maior. A passividade de Jules a incomoda. É aqui que Jim reaparece, suscitando um amor que há muito não aparecia. A angústia da mulher está na dúvida entre os dois amigos. O passar do tempo é rápido, porém quase imperceptível. As personagens não envelhecem fisicamente, e sim na “alma”.

Após a linda cena em que Jeanne Moreau canta na presença das protagonistas, vemos o retorno de um breve ápice do grande “Turbilhão”, mas que não se mostra tão verdadeiro quanto o primeiro. Os “vais-e-vens” da estória determinam de vez o fim da rebeldia, da transgressão, da trapaça e da impulsão. Jules e Jim já não amam mais Catherine, mas continuam com ela por pura comodidade, por medo da mudança. Tratam-na como uma deusa que precisa ser sempre adorada. Quando a mulher o percebe, é necessário reinventar a paixão. Sua busca pela liberdade nunca pode cessar, sendo que ela se materializa na opção pelo suicídio e pelo assassinato de Jim. ‘A liberdade da morte’, que desemboca na bela seqüencia final da cremação dos corpos.


sábado, 24 de abril de 2010

Má Educação - Pedro Almodóvar

“Má Educação” é um dos filmes mais vertiginosos da carreira de Almodóvar. Ele conta a estória de Enrique e Ignácio, duas crianças que se apaixonam, se separam e se reencontram muitos anos depois.

Já pela abertura do filme, reconhecemos o processo autoral do diretor. O vermelho forte, a música e as imagens quase caricaturais. Como não podia deixar de ser, temos outra vez a metalinguagem. Enrique é um diretor que está no meio de um bloqueio criativo. Ele passa o dia selecionando notícias interessantes nos jornais, para que lhe ocorra alguma idéia. É nesse momento que Ignácio, uma velha paixão da juventude, toca a campainha. O amor dos dois vem dos tempos das primeiras experiências e da idealização.

O roteiro “A Visita”, que Ignácio escrevera, é uma recapitulação de sua infância e uma criação fantasiosa de como ele queria que sua vida adulta fosse. Uma expressão de fantasias ridículas e absurdas, mas que nos agradam quando pensamos nelas. São ânsias e desejos que dizem respeito ao momento do reencontro de ambos os apaixonados, mais uma vez idealizado. Vale ressaltar que Almodóvar diferencia a estória real do filme da do roteiro alternando widescreen e fullscreen.

Nos é apresentada a existência de Padre Manolo, um pedófilo que abusava sexualmente de Ignácio e que foi o responsável pela separação dos protagonistas.


“- Por minha culpa

- Por sua culpa

-Por minha culpa

-Por sua culpa

-Por minha máxima culpa”


O sangue desce pela testa de Ignácio, dividindo-a em duas, assim como o faz com sua vida.

Mais uma vez o diretor nos coloca temas polêmicos e os discute com naturalidade. Nesse caso, temos novamente a homossexualidade, os travestis, o uso de drogas e o abuso sexual de menores. Numa crítica à igreja, Almodóvar faz uma alusão a uma velha prática da primeira metade do século passado. Quando alguém desconfiava que havia um jovem homossexual na família, mandava-o para o seminário, onde se livraria do “dever” social do casamento. Lá, ele sofria abusos de padres mais velhos que também haviam chegado ali pelos mesmos motivos, traumatizando-o. Assim, quando crescesse, o jovem provavelmente se tornaria pedófilo, assim como os outros, e abusaria dos novos adolescentes que entrassem no seminário, tornado-se um ciclo.

Apaixonados, os garotos se tocam pela primeira vez num cinema. Enrique se diz hedonista. Muitos criticaram o filme por tratar de crianças pervertidas, mas a homossexualidade é sentida desde a infância. O processo de experimentação e descoberta do movimento sexual é similar para heterossexuais e gays. Vemos, nos garotos do filme, as mesmas coisas que vemos em nós mesmos quando nos apaixonamos pela primeira vez. Como na linda cena que um gol é errado de propósito. Nós nos reconhecemos neles. Isso é uma coisa universal, não importa a nossa orientação sexual. O diferencial, no filme, é unicamente os traumas sofridos pelos garotos por causa dos abusos do Padre Manolo e pela separação violenta.

A cena na piscina pode ser encarada como apelativa, mas deve ser entendida como um avanço na quebra de tabus e na aceitação da homossexualidade. Trata-se de certa abertura sexual. Foi a primeira vez que um filme com um alcance de nível internacional ousou tão profundamente numa cena erótica entre homens. Outros vieram depois.

A dificuldade que Enrique tem em chamar Ignácio pelo seu nome artístico demonstra sua desconfiança. O sexo simboliza a busca daquele pela verdadeira identidade deste e sua curiosidade. Mostrando que não podemos fugir de quem nós somos, Angel é desmascarado. Descobrimos que ele não era Ignácio, e sim Juan, seu irmão.

“A Visita” termina assim como termina o filme, com Ignácio morto.

“Não temos testemunhas, apenas Deus, mas ele está do nosso lado.” Dizem os assassinos, padres divulgadores dos interesses da igreja.

Juan é, de fato, um grande ator. Pela forma com que usa Padre Manolo e pela facilidade com que engana Enrique. O final não podia ser menos “almodovariano”. A perseguição obsessiva entre as personagens termina de forma trágica e o protagonista continua a fazer cinema com a mesma “paixão”. As citações cinematográficas, muito ricas nessa película, caracterizam um estilo que se estende até os dias de hoje. A trilha sonora é sempre magnífica e a fotografia tem seus grandes momentos. Apesar de não estar entre os melhores da carreira do diretor, “Má Educação” é sedutor e talvez encante pela beleza, sensibilidade e naturalidade com que trata de temas que costumamos julgar tão mal.